sábado, 7 de setembro de 2013

Jornalista explica porque viveu 12 anos sem fazer sexo

Passava férias nos Alpes Franceses. Não era alta temporada e estava sozinha no alto da montanha. Com os esquis nos pés, observando a neve a meu redor, pensei em como gostaria de ter aquela calma na minha vida. Comecei a me questionar por que me obrigava a continuar num relacionamento de cinco anos se estava descontente. Tinha 27 anos e me cansara de ouvir meu namorado dizer quanto éramos um casal feliz e como nossa vida sexual era animada. Não concordava. De maneira alguma. Nosso namoro não era nada daquilo com que sonhara. Estava frustrada com a qualidade do sexo e do relacionamento. Mesmo quando sentia prazer, tinha a intuição de que deveria ser algo maior. Imaginava a sensação de estar no paraíso, de ver um grande sorriso no rosto do meu namorado... mas não havia nada disso. Voltei para Paris, onde moro, e terminei o namoro. Ele não entendeu nada, mas eu estava decidida. Começava a trilhar um caminho solitário que percorri por 12 anos. Entre os 27 e os 39 anos, vivi sem sexo.
Não foi algo planejado, com data para começar e para acabar. Apenas pensei: “Ficarei sozinha para dar um tempo”. Existe um momento na vida em que você não quer fazer sexo todo dia. Foi um período de renascimento. Parecia uma adolescente descobrindo as possibilidades do meu corpo. Comecei a praticar esportes. Corria e nadava. Recuperava minhas próprias sensações, minha sensualidade. Enquanto tomava banho, observava meu corpo – muito jovem naquela época – e ficava feliz em ver como era sensual. Eram momentos maravilhosos. Quando estava com meu namorado, frequentemente ele entrava no banho comigo para fazer amor. Eu não tinha tranquilidade nem durante o banho.
Sophie Fontanel (Foto: ÉPOCA)
Meu celibato foi um período de calmaria. Como muitas mulheres, eu fora apenas o objeto do desejo de um homem. Ele me acordava no meio da noite para fazer amor. Queria transar em todos os lugares e até quando eu estava doente. Eu não conhecia a tranquilidade. Durante minha abstinência sexual, redescobri a paz do corpo. Depois, a dos meus sonhos. Assistia a um filme com o ator americano Robert Redford e tinha um caso com ele – apenas imaginário, claro. Pensava muito sobre as cenas dos filmes. Quando você não faz sexo, tudo adquire uma aura sexual. Não me masturbava imaginando Robert Redford, mas desejar a cena de um filme era meu jeito de me relacionar sensualmente com um homem. Minha libido ficou mais livre: podia sentir desejo comendo um doce. O triste de estar sozinho é ninguém tocar você. Durante a noite, abraçava meu travesseiro como se fosse uma pessoa. Descansava minha cabeça nele como se estivesse nos ombros de um homem. Mas esse homem, no caso, não seria capaz de me sufocar com seu desejo. Naquele momento, com meu travesseiro, estava segura. Pode parecer ridículo, mas, depois de publicar meu livro, descobri que há muitas pessoas solitárias por aí fazendo a mesma coisa.
>>Sylvia Day: "O herói tem de ser bom de cama"

Eu me apaixonei três vezes durante meu celibato. Eram paixões impossíveis de concretizar. Um dos homens era casado. O outro, gay. O terceiro não olharia para mim porque não fazia seu tipo. Naquela época, chorava e ficava triste por meus romances não darem certo. Agora me dou conta de que precisava dessas histórias de amor impossíveis, para poder sentir a paixão e o desejo de forma profunda – e segura, sem o perigo do envolvimento.

No começo, mantive segredo sobre meu celibato voluntário. Chegava a mentir para meus amigos. Dizia que meu novo namorado morava em Londres. Depois de um ano, resolvi revelar a verdade. A reação das pessoas era muito ruim. Todo mundo achava uma pena eu estar sozinha, considerava um desperdício. A falta de sexo é a pior insubordinação dos nossos tempos. A sociedade está assentada sobre o sexo. Tudo é sexual: as propagandas, a maneira como nos vestimos. As pessoas resumem a liberdade a poder transar com quem quiserem. É uma liberdade maravilhosa, sem dúvida. Só esquecem que há também o outro lado: tenho o direito de não transar se não quiser. As pessoas têm medo desse tipo de liberdade, porque temem a solidão. Amigas chegavam a me dizer: “Não estou feliz com meu marido, mas não quero uma vida solitária como a sua”. Era muito agressivo ouvir isso.
Sophie Fontanel (Foto: Divulgação)
Meus amigos arranjavam vários encontros para mim. Lembro bem, porque alguns pretendentes eram horrorosos. Como eu recusava todos esses encontros, eles tentaram achar outra explicação para minha solidão voluntária. Começaram a pensar que talvez eu fosse gay e armaram encontros com mulheres. Não funcionou, porque não sinto atração por mulheres. Meus amigos continuaram a insistir que eu tinha de fazer sexo com homens, mesmo que fosse só para praticar. Argumentava que seria algo estritamente mecânico. E eles diziam: “É claro que é mecânico, Sophie!”. Foi quando me dei conta de que as pessoas fingem que são felizes sexualmente. Porque, me desculpe, se você acha que sexo é mecânico, é porque não está fazendo direito.

Durante a abstinência, consegui entender as pessoas melhor. Passava muito tempo apenas observando e tentando entender o ser humano, seus desejos. Prestava atenção em como um homem pegava na mão da mulher com quem estava, como eles andavam juntos, por que haviam se escolhido. É fascinante. Às vezes, quando estamos num relacionamento, parecemos ficar cegos para o mundo. Talvez eu tenha enxergado as pessoas pela primeira vez. Talvez tenha enxergado os homens pela primeira vez. Foi quando aprendi a amá-los. Como comecei minha vida sexual muito cedo, para mim eles sempre pareceram predadores.

Perdi minha virgindade aos 13 anos, num quarto de hotel, com um turista mexicano dez anos mais velho do que eu. Eu fora até o quarto dele por curiosidade e, de repente, ele estava nu. Disse para ele que não poderia ir além, mas não tinha ideia de que alguns homens não têm escrúpulos. Naquela época, não entendi a violência. Vinha de uma família católica e só conseguia pensar que havia pecado por causa da minha curiosidade. Hoje entendo que, por causa dessa iniciação sexual traumática, meu corpo tinha medo de fazer sexo. Eu me recusei a entender isso por muito tempo. Meu período celibatário foi uma espécie de revirginização – para, desta vez, começar minha vida sexual de uma maneira positiva.

Encerrei meu celibato quando conheci um homem por quem não pude controlar o desejo de ser tocada. Eu tinha 39 anos. Estava com medo, porque pensava que esquecera como se faz sexo. Tinha receio de parecer ridícula, mas foi maravilhoso: a confirmação de que o sexo não tinha de ser mecânico, que podia ter ternura, que era algo a que eu podia me entregar sem medo. Me relacionei com outros homens depois disso. Ainda fico um ou dois anos sem fazer sexo e não encaro isso como um problema. É normal você ter todo o desejo dentro de você e não encontrar alguém que lhe agrade. Descobri que, às vezes, pode ser melhor ficar a sós com o desejo.
Globo.com 

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