A Justiça dos Estados Unidos pediu que o Brasil extradite um cidadão americano acusado de aplicar em três mil pessoas um golpe de US$ 300 milhões — o equivalente a R$ 750 milhões. O aposentado John Paul Utsick, de 71 anos, é considerado foragido. Em novembro de 2007, Utsick viajou para o Brasil e nunca mais voltou. O EXTRA teve acesso à íntegra do processo de extradição, que corre no Supremo Tribunal Federal. O americano já foi preso e está na carceragem da Polícia Federal em São Paulo.
O ministro Dias Toffoli, relator do processo no STF, determinou a prisão preventiva do suposto golpista em maio e agora analisa o pedido de extradição. Caso autorize, Utsick será levado para julgamento na Flórida. Na terra de Obama, ele é aguardado ansiosamente pelos que, durante anos, investiram seu dinheiro nas empresas dele. Acreditavam lidar com um bem-sucedido produtor de shows, responsável por centenas de turnês, algumas para grandes estrelas, como a banda inglesa Rolling Stones, a americana Alicia Keys e o inglês Elton John. Também produziu filmes — um deles a comédia “Universidade do prazer”, estrelado pela modelo-atriz Paris Hilton.
Utsick é acusado de ter enganado todos durante anos, com um sofisticado esquema de pirâmide. De 1996 a 2006, ele convenceu pessoas a investirem em duas empresas suas. O dinheiro de cada novo investidor servia para pagar os lucros para os investidores que entraram antes. Mas as empresas haviam parado de dar lucro de verdade há muito tempo. Segundo o FBI, a Polícia Federal americana, as finanças eram maquiadas para que Utsick ficasse com o dinheiro. Há casos de pessoas que investiram as economias de uma vida inteira. Grande parte das vítimas eram antigos colegas do acusado — nos anos 1970, antes de entrar para o ramo do entretenimento, ele foi piloto da companhia TWA.
A investigação começou pela Comissão de Títulos e Câmbio dos Estados Unidos (Securities and Exchange Comission) — equivalente à Comissão de Valores Mobiliários brasileira, encarregada de regular o setor de ações. Diante de uma série de desavenças entre Utsick e seus sócios, a comissão deu início à apuração.
No começo, acharam que ele e dois sócios estavam vendendo seguros para financiar shows de algumas bandas, mas depois descobriu-se que, na verdade, Utsick vinha perdendo dinheiro na maioria de suas empreitadas.
No pedido de extradição, a Justiça americana afirma que Utsick torrou o dinheiro desviado com extravagâncias. Uma bela mansão na Praia de Miami, uma coleção de carros, outra de obras de arte. Mas também fez pequenos gastos: até lingeries para a namorada comprou.
Segundo a Justiça americana, Upsick dizia às supostas vítimas que os investimentos renderiam de 15% a 25%, considerando a possível renda dos projetos de entretenimento. Para dar credibilidade à ideia de que suas empresas rendiam muitos lucros, fez com que os investidores recebessem declarações falsas de investimentos, por meio de entregas do Correio dos EUA e mensageiros comerciais interestaudais, além de faxes.
‘Saúde precária’
No último dia 14 de junho, o ex-produtor de megashows foi interrogado na 8ª Vara Criminal Federal de São Paulo, a pedido do ministro Dias Toffoli. Negou que sejam verdadeiras a acusação que lhe é feita pela Justiça dos Estados Unidos.
“A razão pela qual acredita que está sendo acusado é que sua empresa de entretenimento cresceu rapidamente, tornando-se uma ameaça para a número um do setor”, descreveu o juiz que ouviu o depoimento, no despacho para Toffoli.
O advogado de John Utsick no Brasil pediu ao ministro Toffoli que autorize a transferência do preso para um hospital particular. De acordo com o advogado Luiz Rozette, o americano teria diabetes, gastrite e uma doença cardíaca. Toffoli ainda não decidiu sobre esse pedido. Rozette não respondeu às perguntas do EXTRA. Em sua defesa, o americano disse ser inocente e garantiu que não veio para o Brasil fugindo da Justiça americana, mas sim para produzir shows por aqui.
A assessoria de imprensa da Embaixada dos Estados Unidos no Brasil afirmou ao EXTRA que não comenta casos envolvendo cidadãos americanos, em “respeito à privacidade deles”.
O ministro Dias Toffoli não tem prazo para decidir. Até lá, Utsick permanece na carceragem da PF. As palmeiras das praias de Miami e o convívio com popstars agora são passado.
Extra Online