sábado, 31 de agosto de 2013

Produtor de shows de Rolling Stones está preso em SP; fraude de US$ 300 milhões

A Justiça dos Estados Unidos pediu que o Brasil extradite um cidadão americano acusado de aplicar em três mil pessoas um golpe de US$ 300 milhões — o equivalente a R$ 750 milhões. O aposentado John Paul Utsick, de 71 anos, é considerado foragido. Em novembro de 2007, Utsick viajou para o Brasil e nunca mais voltou. O EXTRA teve acesso à íntegra do processo de extradição, que corre no Supremo Tribunal Federal. O americano já foi preso e está na carceragem da Polícia Federal em São Paulo.
O ministro Dias Toffoli, relator do processo no STF, determinou a prisão preventiva do suposto golpista em maio e agora analisa o pedido de extradição. Caso autorize, Utsick será levado para julgamento na Flórida. Na terra de Obama, ele é aguardado ansiosamente pelos que, durante anos, investiram seu dinheiro nas empresas dele. Acreditavam lidar com um bem-sucedido produtor de shows, responsável por centenas de turnês, algumas para grandes estrelas, como a banda inglesa Rolling Stones, a americana Alicia Keys e o inglês Elton John. Também produziu filmes — um deles a comédia “Universidade do prazer”, estrelado pela modelo-atriz Paris Hilton.
Utsick é acusado de ter enganado todos durante anos, com um sofisticado esquema de pirâmide. De 1996 a 2006, ele convenceu pessoas a investirem em duas empresas suas. O dinheiro de cada novo investidor servia para pagar os lucros para os investidores que entraram antes. Mas as empresas haviam parado de dar lucro de verdade há muito tempo. Segundo o FBI, a Polícia Federal americana, as finanças eram maquiadas para que Utsick ficasse com o dinheiro. Há casos de pessoas que investiram as economias de uma vida inteira. Grande parte das vítimas eram antigos colegas do acusado — nos anos 1970, antes de entrar para o ramo do entretenimento, ele foi piloto da companhia TWA.
Utsick no encontro de 2005 do Concert Industry Consortium, entidade que reúne grandes nomes da indústria de shows nos Estados UnidosUtsick no encontro de 2005 do Concert Industry Consortium, entidade que reúne grandes nomes da indústria de shows nos Estados Unidos Foto: Reprodução da internet
A investigação começou pela Comissão de Títulos e Câmbio dos Estados Unidos (Securities and Exchange Comission) — equivalente à Comissão de Valores Mobiliários brasileira, encarregada de regular o setor de ações. Diante de uma série de desavenças entre Utsick e seus sócios, a comissão deu início à apuração.
No começo, acharam que ele e dois sócios estavam vendendo seguros para financiar shows de algumas bandas, mas depois descobriu-se que, na verdade, Utsick vinha perdendo dinheiro na maioria de suas empreitadas.
No pedido de extradição, a Justiça americana afirma que Utsick torrou o dinheiro desviado com extravagâncias. Uma bela mansão na Praia de Miami, uma coleção de carros, outra de obras de arte. Mas também fez pequenos gastos: até lingeries para a namorada comprou.
Segundo a Justiça americana, Upsick dizia às supostas vítimas que os investimentos renderiam de 15% a 25%, considerando a possível renda dos projetos de entretenimento. Para dar credibilidade à ideia de que suas empresas rendiam muitos lucros, fez com que os investidores recebessem declarações falsas de investimentos, por meio de entregas do Correio dos EUA e mensageiros comerciais interestaudais, além de faxes.
Utsick e amigas, na festa  Utsick e amigas, na festa "100 mulheres mais sexies" da edição australiana da revista FHM, em 2005 Foto: Reprodução de internet
‘Saúde precária’
No último dia 14 de junho, o ex-produtor de megashows foi interrogado na 8ª Vara Criminal Federal de São Paulo, a pedido do ministro Dias Toffoli. Negou que sejam verdadeiras a acusação que lhe é feita pela Justiça dos Estados Unidos.
“A razão pela qual acredita que está sendo acusado é que sua empresa de entretenimento cresceu rapidamente, tornando-se uma ameaça para a número um do setor”, descreveu o juiz que ouviu o depoimento, no despacho para Toffoli.
O advogado de John Utsick no Brasil pediu ao ministro Toffoli que autorize a transferência do preso para um hospital particular. De acordo com o advogado Luiz Rozette, o americano teria diabetes, gastrite e uma doença cardíaca. Toffoli ainda não decidiu sobre esse pedido. Rozette não respondeu às perguntas do EXTRA. Em sua defesa, o americano disse ser inocente e garantiu que não veio para o Brasil fugindo da Justiça americana, mas sim para produzir shows por aqui.
A assessoria de imprensa da Embaixada dos Estados Unidos no Brasil afirmou ao EXTRA que não comenta casos envolvendo cidadãos americanos, em “respeito à privacidade deles”.
O ministro Dias Toffoli não tem prazo para decidir. Até lá, Utsick permanece na carceragem da PF. As palmeiras das praias de Miami e o convívio com popstars agora são passado.

Extra Online 

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